Cai a noite.
Sob o manto da sombra
O braseiro é um bálsamo
Que sara o aguilhoar
Dos escorpiões do frio.
Ardente, talhou as mantas,
O nosso cálido abrigo
Onde frio se não consente.
O incêndio na lareira
(Nós olhando fascinados
E a grande taça de vinho
Que vai passando em redor)
Mal nos permite a intimidade
E logo nos afasta.
É uma mãe,
Que umas vezes nos amamenta
E outra nos retira o peito.
(versão: Adalberto Alves)
sexta-feira, 30 de setembro de 2016
#48 - "Cai a noite.", Ibn Sara
quarta-feira, 14 de setembro de 2016
#47 - NOITE NOS JARDINS DA GULBENKIAN, Luís Filipe Castro Mendes
O limo, o lume, as áleas protegidas
e a noite que chega
sem nos perguntar.
E se o jardim, súbita melodia
nas áleas a perder-se, só memória,
fosse afinal complacência muda
e o nosso grito o lume que defende as áleas
do peso de ser noite?
Mas quem arrisca um grito,
da vida que nos coube?
e a noite que chega
sem nos perguntar.
E se o jardim, súbita melodia
nas áleas a perder-se, só memória,
fosse afinal complacência muda
e o nosso grito o lume que defende as áleas
do peso de ser noite?
Mas quem arrisca um grito,
da vida que nos coube?
Etiquetas:
Luís Filipe Castro Mendes
terça-feira, 13 de setembro de 2016
#46 - CANÇÃO NOCTURNA (Reinaldo Ferreira [F.º])
Café de cais
onde se juntam
anónimos de iguais,
os ratos dos porões,
babel de todos os calões,
rio de fumo e de incontido cio,
sexuado rio,
que busca, único mar,
mulheres de pernoitar,
unge-te a nojo, não Anfitrite,
fina ficção marinha,
mas nauseabundo
e tutelar
o vulto familiar
da Virgem Vício,
Nossa Senhora do Baixo Mundo.
onde se juntam
anónimos de iguais,
os ratos dos porões,
babel de todos os calões,
rio de fumo e de incontido cio,
sexuado rio,
que busca, único mar,
mulheres de pernoitar,
unge-te a nojo, não Anfitrite,
fina ficção marinha,
mas nauseabundo
e tutelar
o vulto familiar
da Virgem Vício,
Nossa Senhora do Baixo Mundo.
segunda-feira, 12 de setembro de 2016
#45 - OLIVAIS, COIMBRA, Fernando Assis Pacheco
Era de noite e eu pensava
não: era de noite uma outra noite mais antiga do que a narrativa deixa subentender
não: era de noite agora e na hora e eu que me enrolava pensando na morte do meu
[corpo
não: era de noite àquela hora a alegria
das casas funde-se com um estalido cruel
diante do poema não: quando à garganta vai subir
o primeiro poema informe
o pai dormia (uma cidade dormia) não: no meio do Verão
em Coimbra atacado pelo perfume aflitivo das hortênsias ou era
um clic na madeira vendo-se longe o Tovim o Picoto luzes
inverosímeis
essa noite é que o miúdo pensava na brevidade de tudo isto
não: era de noite uma outra noite mais antiga do que a narrativa deixa subentender
não: era de noite agora e na hora e eu que me enrolava pensando na morte do meu
[corpo
não: era de noite àquela hora a alegria
das casas funde-se com um estalido cruel
diante do poema não: quando à garganta vai subir
o primeiro poema informe
o pai dormia (uma cidade dormia) não: no meio do Verão
em Coimbra atacado pelo perfume aflitivo das hortênsias ou era
um clic na madeira vendo-se longe o Tovim o Picoto luzes
inverosímeis
essa noite é que o miúdo pensava na brevidade de tudo isto
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