Nas horas paradas, indecisas
em que os olhos olham
a mesma cor no mundo
e, um ténue claridade se suspende
no céu, entre o Sol e as estrelas...
no compasso de espera,
ainda dia e não sei se noite,
é que acorda o nosso coração.
E tange
a mesma canção amarga,
que vem das árvores,
dos pássaros, da gente
e onde a síncope da noite
colhe um a um todos os gestos.
Deixou de brilhar a água
translúcida do lago.
A árvore sustém na copa de sombra
os ramos que apenas sabem que vacilam.
Os pássaros são pios
gravados na memória
e em redor.
Percebem-se ainda os passos
da mulher que desce a rua.
O resto, é um traço vago
desenhado em reflexos baços
na penumbra.
Tudo se retrai e assusta
como num princípio de Vida.
Somos crianças e vamos
levadas por um destino comum
de sombras informes.
Mistério que somos
de nada e além
em agigantadas perspectivas de Morte
confundindo-se no mármore frio
de místicos temores...
...E a Vida continua.
Serena se levanta
do fundo da memória
nos ramos que se agitam,
nos pássaros que voam.
E balbucia e traça e canta
a mensagem futura
para embalar o dia que vem
na aurora distante.
Gostei muito deste poema.
ResponderEliminarE lido em voz alta ainda é mais bonito.
Desconhecia este autor.
Poeta muito interessante, angolano independentista, morreu relativamente novo, creio que no sanatório do Caramulo.
Eliminar