sexta-feira, 28 de novembro de 2014

#38 - ALARIDO, Henriqueta Lisboa

E veio a noite do alarido.

A noite clara, a noite fria,
com perfurados calafrios.

A noite com punhais erguidos
e olhos devassando perigos.

A noite cava, com ladridos
de cães atiçados. E espias.

A noite com tremores lívidos
e com membros estarrecidos
diante das ovelhas suicidas.

A noite de mármore e níquel
despedaçando-se em tinidos
no cristal violento das criptas.

Montanhas de ferro em vigília,
longas árvores comprimidas
e astros de fogo em carne viva

pasmaram de tanto alarido.

1 comentário:

  1. "Musiquei" este poema há mais de trinta anos. Ainda tenho a gravação, mas a música não faz justiça à letra. É um poema que ainda me cativa.

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