E veio a noite do alarido.
A noite clara, a noite fria,
com perfurados calafrios.
A noite com punhais erguidos
e olhos devassando perigos.
A noite cava, com ladridos
de cães atiçados. E espias.
A noite com tremores lívidos
e com membros estarrecidos
diante das ovelhas suicidas.
A noite de mármore e níquel
despedaçando-se em tinidos
no cristal violento das criptas.
Montanhas de ferro em vigília,
longas árvores comprimidas
e astros de fogo em carne viva
pasmaram de tanto alarido.
sexta-feira, 28 de novembro de 2014
#38 - ALARIDO, Henriqueta Lisboa
quarta-feira, 19 de novembro de 2014
#37 - AS ROSAS, Sophia de Mello Breyner Andresen
Quando à noite desfolho e trinco as rosas
É como se prendesse entre os meus dentes
Todo o luar das noites transparentes,
Todo o fulgor das tardes luminosas,
O vento bailador das Primaveras,
A doçura amarga dos poentes,
E a exaltação de todas as esperas.
É como se prendesse entre os meus dentes
Todo o luar das noites transparentes,
Todo o fulgor das tardes luminosas,
O vento bailador das Primaveras,
A doçura amarga dos poentes,
E a exaltação de todas as esperas.
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Sophia de Mello Breyner Andresen
terça-feira, 18 de novembro de 2014
#36 - NOITE DE TORMENTA, Ribeiro Couto
A mão do vento é má e me procura;
fria, contra o meu rosto a não quisera,
mão que saiu de alguma sepultura
da mais perdida, mais remota era.
Nenhuma porta mais está segura:
o vento trouxe alguém que ali me espera,
alguém que com cicios de conjura
ri escarninho do pavor que gera.
Em noites de tormenta como esta,
penso na mão que outrora me acudia,
meigamente pousada em minha testa.
Cessou a chuva. O vento já não ouço.
A casa é como um berço... Principia
seu brando movimento de balouço...
fria, contra o meu rosto a não quisera,
mão que saiu de alguma sepultura
da mais perdida, mais remota era.
Nenhuma porta mais está segura:
o vento trouxe alguém que ali me espera,
alguém que com cicios de conjura
ri escarninho do pavor que gera.
Em noites de tormenta como esta,
penso na mão que outrora me acudia,
meigamente pousada em minha testa.
Cessou a chuva. O vento já não ouço.
A casa é como um berço... Principia
seu brando movimento de balouço...
quarta-feira, 5 de novembro de 2014
#35 - FAROL ETERNO, Cândido Guerreiro
Decorreram os anos. Pouco a pouco,
O vendaval, à solta, por vingança,
Quebra os vitrais e pela igreja avança,
E rompe em uivo prolongado e rouco...
E foge, e torna, e, com a chuva, louco,
Em desvairado sacrilégio, dança,
E abate claustros e ao abismo os lança,
E tudo alui, da abóbada ao cabouco...
Tudo caíu... Mas uma claridade,
Azul, fugaz, em noites muito escuras,
Ondula e sobe e, entre os escombros, erra...
-- Oh! a sobrevivência da piedade! --
São fogos fátuos, são as sepulturas
Ainda agora a alumiar, da terra...
O vendaval, à solta, por vingança,
Quebra os vitrais e pela igreja avança,
E rompe em uivo prolongado e rouco...
E foge, e torna, e, com a chuva, louco,
Em desvairado sacrilégio, dança,
E abate claustros e ao abismo os lança,
E tudo alui, da abóbada ao cabouco...
Tudo caíu... Mas uma claridade,
Azul, fugaz, em noites muito escuras,
Ondula e sobe e, entre os escombros, erra...
-- Oh! a sobrevivência da piedade! --
São fogos fátuos, são as sepulturas
Ainda agora a alumiar, da terra...
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