Nas horas paradas, indecisas
em que os olhos olham
a mesma cor no mundo
e, um ténue claridade se suspende
no céu, entre o Sol e as estrelas...
no compasso de espera,
ainda dia e não sei se noite,
é que acorda o nosso coração.
E tange
a mesma canção amarga,
que vem das árvores,
dos pássaros, da gente
e onde a síncope da noite
colhe um a um todos os gestos.
Deixou de brilhar a água
translúcida do lago.
A árvore sustém na copa de sombra
os ramos que apenas sabem que vacilam.
Os pássaros são pios
gravados na memória
e em redor.
Percebem-se ainda os passos
da mulher que desce a rua.
O resto, é um traço vago
desenhado em reflexos baços
na penumbra.
Tudo se retrai e assusta
como num princípio de Vida.
Somos crianças e vamos
levadas por um destino comum
de sombras informes.
Mistério que somos
de nada e além
em agigantadas perspectivas de Morte
confundindo-se no mármore frio
de místicos temores...
...E a Vida continua.
Serena se levanta
do fundo da memória
nos ramos que se agitam,
nos pássaros que voam.
E balbucia e traça e canta
a mensagem futura
para embalar o dia que vem
na aurora distante.
noite transfigurada
Estende o manto, estende, ó noite escura (Filinto Elísio)
quinta-feira, 18 de janeiro de 2018
terça-feira, 4 de abril de 2017
#56 - IN MEMORIAM, Eugénio de Andrade
(F.G.L.)
Noite aberta.
A lua
tropeça nos juncos.
Que procura a lua?
raiz do sangue?
Um rio onde durma?
A voz delirando
no olival, exangue?
Sonâmbulo,
que procura a lua?
O rosto de cal
que no rio flutua?
Noite aberta.
A lua
tropeça nos juncos.
Que procura a lua?
raiz do sangue?
Um rio onde durma?
A voz delirando
no olival, exangue?
Sonâmbulo,
que procura a lua?
O rosto de cal
que no rio flutua?
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